O cientista e explorador polar, Jefferson Simões, liderou a primeira expedição brasileira ao interior do continente antártico. Além de professor no Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, é coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera
Para Jefferson Cardia Simões, este Natal será bem diferente do de 2008. Ele poderá estar no aconchego de sua casa em Porto Alegre, ao lado da mulher, Ingrid, e dos filhos Felipe, de 22 anos, e Carolina, de 20. “No ano passado, eu estava ao lado de outros sete pesquisadores, ao redor de um pequeno fogão, no interior de uma barraca, à temperatura de 8 graus negativos, a mil quilômetros do polo Sul geográfico. Sorte que havia um bom vinho chileno para esquentar”, lembra-se ele. Desde 1990, Simões já esteve na Antártica 17 vezes. Essa última investida, porém, foi especial: entre 1o de dezembro de 2008 e 13 de janeiro deste ano, liderou a expedição Deserto de Cristal, a primeira incursão nacional ao interior do continente antártico. Cientista com doutorado no Instituto de Pesquisa Polar Scott da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Simões, de 51 anos, é o primeiro brasileiro a especializar-se em glaciologia, a ciência do gelo em todas as suas formas e seu papel no sistema ambiental
Assim, a composição química da atmosfera daquele período fica preservada. Ao se perfurar os poços no gelo, podemos analisar as impurezas e os gases ali contidos e obter inúmeros relatos ambientais ocorridos ao longo do tempo. Entre outros dados, conseguimos olhar para trás e verificar as atividades vulcânicas da Terra, descobrir fontes terrestres de poeira, comprovar a extensão de mares congelados, investigar atividades biológicas terrestres e marinhas e determinar as variações da temperatura da atmosfera. Por meio desses estudos, por exemplo, os cientistas determinaram, desde o início da Revolução Industrial, um aumento de 36% na concentração de dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. As atuais concentrações desse gás são as maiores ao longo dos últimos 800 mil anos.
Qual foi o principal objetivo da expedição Deserto de Cristal?
Fomos à Antártica para, entre outros objetivos, obter o que chamamos de testemunho de gelo. Trata-se de cilindros que têm entre 5 e 10 centímetros de diâmetro retirados do manto de gelo antártico. Conseguimos extrair um testemunho de 95 metros de profundidade que revela a história da precipitação química da atmosfera dos últimos 250 anos. Com isso, podemos entender melhor os processos de mudanças globais no clima.
O que esses indícios de gelo antigo revelam?
Muita coisa. Eles nos contam o que aconteceu na atmosfera terrestre ao longo das últimas centenas ou milhares de anos. Os testemunhos são retirados de geleiras e mantos de gelo formados pela neve que se acumulou em camadas horizontais. Ao cair, a neve carrega consigo inúmeras impurezas presentes na atmosfera. Em seguida, devido à pressão das camadas depositadas posteriormente, a neve se transforma em gelo.
Qual o testemunho mais antigo?
Franceses e italianos extraíram um na Antártica que tem cerca de 800 mil anos. Nos próximos dez anos, o grande desafio é atingir um gelo de 1,5 milhão de anos. No total, foram 44 dias no continente antártico, 16 deles no acampamento avançado, um lugar remoto, a 80 graus de latitude sul.
A Antartica pode também conter indícios dos incêndios florestais comuns no Brasil?
Isso ainda não está claro. No Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera, pretendemos detectar e determinar a quantidade de subprodutos da queima da biomassa, como a da Floresta Amazônica, transportados para a Antártica. Esse trabalho começou no primeiro semestre de 2008
Teremos mais parte da entrevista aguardem...
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